quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O Danilson

Hoje conheci o Danilson.

O Danilson vestia um pólo bordô, aí coisa de quatro ou cinco números acima do dele, já desbotado pelo sol, e com meia dúzia de buracos.
O Danilson é engraxador, como tantos outros.
O Danilson assim que me viu ir em direção ao carro, veio em direção a mim: "Madrinha dá só! Dá só para comer."
O Danilson estava descalço.


O Francisco já me disse "não podes ter pena de toda a gente!" E eu não tenho! Nem aqui, nem em Portugal, nem noutros sítios. Já se sabe que não damos dinheiro a toda a gente que nos pede, mas de vez em quando dou sim.

Entrei no carro e lá tirei de 200 kwanzas (não chega a €1,5) e dei ao Danilson que me agradeceu com um sorriso "obrigado madrinha". Cada um foi à sua vidinha.

Era muito provável que o dinheiro não seria para o Danilson, que ainda não devia ter comido nada aquela hora da manhã. Que tinha que entregar o dinheiro. Quero acreditar que o Danilson estava com fome e que não foi cheirar gasolina.

No trânsito o Danilson passou por mim outra vez, bateu no vidro do carro e disse-me adeus.

Esperava eu no carro com o Francisco, tinha passado aí coisa de hora e meia e passa novamente o Danilson por nós, e com a sua caixa de engraxar sapatos. Cada engraxadela custa 100 kwanzas; não faço ideia do dinheiro que faz por dia.

O Danilson assim que me viu outra vez, lá veio outra vez em direção ao carro. O Francisco começou logo a manda vir.
Eu abri a janela do carro e perguntei se o Danilson já tinha comido. Ao que ele me respondeu que não. Que tinha dado o dinheiro ao irmão mais velho (que supostamente estava doente!!!). Pena, mas não me arrependi.

Ainda pensei que o Danilson me fosse pedir mais dinheiro. Mas não. Foi só ali cumprimentar e seguiu descalço naquela calçada irregular, meio alcatroada e meio acimentada.

O Danilson devia ter aí uns 10/11 anos. O Danilson não deve ir à escola. Como este miúdo há centenas.
É por isso impossível ficar indiferente à sua franzinice, normalmente de sorriso rasgado e de pés já calejados.

O Danilson cuida dos sapatos dos outros mas não tem sapatos seus para cuidar.

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